domingo, 29 de novembro de 2015

desbancarramentos


há um fio que se faz rubro
há um rastro de sangue
que se tenta sumir
que se tenta apagar

não é sangue morrido
é sangue que se mata
descontínuo na alma
interrompido em vida

é um lamento a torto e esquerdo
que se conflagrou derrotado
persistindo em gritos latentes
que se tapam mas não calam

são esses vestígios que assombram
com lembranças que assolam
que nos soterram a gente
de passado vivente e presente ausente


Uberlândia, manhã de 29/11/2015. 

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Urgência

É preciso implodir o mundo.
Do jeito que se encontra faz dor de tiro no peito.
É preciso moer o mundo.
Para ver com o suco das suas sementes se sai um bom caldo.
Não se faz necessário conservar o mundo como está.
O que já existe, mesmo em roupagens novas já morreu de velho.

É imprescindível surgir o novo.
Criar raízes que permitem revigorar a existência.
Colocar bases sólidas e tijolos que elevem não apenas paredes, mas que se façam estruturas de belezas

Não é mais momento de esperar dias vindouros.
Torna-se condição nos fazermos esse dia que tanto esperamos.
É inadmissível proclamar que o corriqueiro não importa.
Pois os que assim fizerem serão cúmplices do sofrimento alheio.
A sacralidade do que se julga banal é um dos piores crimes contra a humanidade.

É preciso destruir o mundo!
Essa é radicalidade que se tornou necessidade.
Pois estamos prestes a nos sufocar entre os nossos escombros.
É preciso conspirar contra esse mundo.
Não acatar às ordens e instituirmos o amor como regra única.
Porque amor e mudança se configuram como únicas leis de fato humanas.

domingo, 26 de julho de 2015

temporal

ah tempo
faz um favor
dispare sem eu ver
pra gente ser encontro

oh tempo
que voou recentemente
agora anda lento
e eu meio sem alento

ah tempo
seja vento
passe sem eu ver
pra ela não estar distante

oh tempo
fuja do relógio
exploda o calendário
pra ser agora nosso amor

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Giovana

É diferente amar e sentir que é de verdade.
Amar exige paciência e dedicação.
É moldar a cada instante lentes novas pra fazer ver o mundo melhor.
Amar é perdoar. É deixar pra trás o que não serve mais.
É fazer o carinho cada dia maior.
É poder ser quem você é.
É não se ver tão só no mundo.
Amar é entender a outra pessoa no tempo que tiver de ser.
E quando for o tempo de ser entendido também isso receber.

Amar para mim é ter encontrado a garota de olhos profundos e às vezes tristes
que não são vistos às vezes pelo seu sorriso ensolarado
É me sentir abraçando o universo quando estou com ela
É saber que ela vai me ouvir e me compreenderá
É crer que temos uma longa estrada a caminhar
Amar é entregar-me a ela camada por camada
É dispor-me das minhas defesas, de minhas amarras
É querer renovar-me e vencer meus medos e limites

Amar é ver o beija-flor que há muito tempo se queria ver
que veio pra anunciar duas vezes a felicidade que teremos
É compor notas e acordes novos para a vida
É sentir que caminharemos muitas vezes pela orla do mar
e que andaremos desfilando sonhos e esperanças por aí
Rir-nos de em tão pouco tempo nos imaginarmos daqui a 10 ou 20 anos juntos
e levarmos a sério que de repente isso pode mesmo ser.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

assisti-la

Precisava de ar.
Não lhe caía bem se sentir sufocada, engolida, apertada.
Mas queria um chão, um pouquinho de segurança.
Tremia às vezes por estar em meio às bagunças da superfície.
Queria mergulhar. Só que cada vez que mergulhava se perdia no fundo da piscina.
Nem fundo demais, nem no imediato demais - dizia.
Só que não encontrava o calibre certo.
Nem um bom lugar para ficar.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

em nós

perambulo em ônibus
e vejo faces tristes
unidas em suas solidões
trafegando em desesperanças
que as isolam entre si

pare o trânsito!
é preciso colher a flor
cessar o tempo
olhar nos entremeios de suas pétalas
no assustador dos vazios de sua beleza

a superfície acomoda
faz respirar fácil o ar
só que soterra nossos templos
faz chão o que há de nós
come nossa paixão de mundo

pare o trânsito!
não deixem que a esmaguem
é preciso tocar a flor
e beijar a flor
deixar crescer e ser

deslizo dedos em seu caule
corto-me em espinhos
e pela epiderme escorre o vinho
e a abertura que se faz pequena
se fará uma marca grande

pare o trânsito!
é preciso amar a flor
ela não está ali no asfalto
está bem dentro de nós
por que queremos ceifa-la?


Uberlândia, 15/06/2015 – 06:05h

quarta-feira, 10 de junho de 2015

ver a gente

eu vejo como bonitas as pessoas
cada uma se criando encantada
no espaço entre a crueza e o delírio da vida
trafegando no infinito desses pontos

não se adianta ser o que não é
nem presta muito ser o que não se quer
é que uma vida vai embora num instante
igual tempo que lágrima desce d’olhos

tudo o que guardo em mim nem sempre ficará
e às vezes jogo no lixo o que não serve mais
é um ritual que faço em mim para carregar
a angústia no peso que consigo as levar

já fui ao lugar onde a dor mais consome
e  aprendi a viver quando tem de viver
deixando ficar quando tem de ficar
e ir embora quando tem de ir

pras pessoas há um sofrer latente
que todo mundo quer escapar
e ninguém quer muito observar
pois é como um espelho de si só

a solidão tem horas que acalenta
e o sorriso por vezes entristece
porque somos feito  grama verdinha
que um boi no amanhecer vai pastar

tudo que se constrói um dia se desfaz
e se o que se grava de algum jeito ficará
a realidade corrói as possibilidades
mas mesmo nessa toada as pessoas continuam bonitas



Diego Leão – 07/06/2015

sábado, 6 de junho de 2015

Memórias Possíveis?

Toda memória é um troço meio machucado. Por trás de cada lembrança mesmo que acompanhada de sorrisos, acaba vindo sempre um sensação de peito se comprimindo. Ficando assim meio apertado.
 A memória que é sempre um pouco invenção faz-se tempo que já não existe mais.  Tal como se ladrasse querendo se salvaguardar pra dizer que somos alguma coisa na vida e no mundo.

Toda memória que predomina em algum lugar efetiva-se enquanto atentado às outras tantas que também querem falar.

Uma memória é o que foi, mas também é o que poderia ter sido. Quantas paixões e quantos amores se tornaram projetos falhos, mas que em algum momento foram possibilidades? Quantas ações poderiam ser apenas sequência de nossos planejamentos sonhados? Quantas vezes as utopias poderiam ter esmagado a tirania daquilo que nos impede de sermos em completude?

A memória é como uma lesma que passeia pelo presente. Insiste em não nos deixar esquecer nossos piores aspectos, nossos piores erros, nossos mais assustadores traumas. Às vezes se torna tão incômoda que o único caminho é ocultá-la. Fingirmos que esquecemos. Porém, quando a escondemos ela cresce mais e torna cada vez mais tenebroso revisita-la. Toma então para si em partes nossa mente lá onde fazemos de tudo para não sabermos como algo que também nos é.

Às vezes a memória é como um encontro. Nela nos percebemos enquanto bichos humanos. Afinal, apenas homens e mulheres são seres no tempo. Apenas nós nos identificamos no passado, requerendo-nos sermos outra coisa no futuro. Nisso a beleza, nisso a lamentação. Porque aí se desvela um castigo, mas que coloca a partir das contradições as chances de redenção.


É que a ousadia de um novo tempo necessariamente haverá de evocar alguma memória. O presente é puro e límpido, mesmo que não o aceitemos como é. Contudo, ele nunca se desvinculará totalmente do que se fez o peso e a leveza de todos os tempos vividos pela humanidade.  

sábado, 30 de maio de 2015

abraçar sem prender

Hey, menina. O que está errado?
Pode a vida ter algo certo?
Eu já disse o que gostaria de ti.
Poderíamos tentar
A despeito de não sabermos o que será

Hey, menina. Esse é o jogo da vida.
Esmaga e morre, soçobra o mundo.
É inevitável o que há porvir
Toda ação desperta uma reação
Responsáveis somos por nós mesmos

Hey, menina. Eu não sei o que será.
Eu não quero tornar poema terapia
Só que é preciso marcar o que se passa no peito
Agora a lua é clara, mas se faz nova sinistra
Hoje há aperto no peito, mas podemos recomeçar

Hey, menina. Eu sei que te quero.
Só que não nasci para aprisionar
Um beija-flor morre em gaiola
E seguro nas mãos perde o ar
Venha a mim, mas só se desejar

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Ela e o Mar

Antes de dormir, cabe um poema?
Com letras maiúsculas no início dos versos
do jeito que eu nem faço mais

É que toda vez que ela vai embora
É como se eu olhasse a me despedir do mar
Admirando a vastidão e sem saber
Se um dia de novo vou poder lhe contemplar

Mesmo que partisse no horizonte
E eu ficasse triste a ver navios
Queria que enfim se descobrisse mar
E não se ativesse tanto ao seu vai e vem de marés
É que mar é como amar e é assim: instável
Dissolve o medo que nunca toma parte de sua natureza

Todo mar  vai ao longe e em profundezas
Tem o fantástico e profundo dentro de si
E deságua sempre em incomensuráveis oceanos
Assim como você vive e quer se fazer ser



domingo, 24 de maio de 2015

sem lugar - sem imagem


Você se preocupa por não saber o que quer. Eu já não me preocupo em querer. Apenas quero, apenas sou. Levo-me na levada do vento. Sofro os horrores óbvios. Vivo as alegrias do ópio momentâneo.
Percebo o milímetro e o imperceptível. Emerjo do abissal.  

Tem minutos que me canso, em outros crio ânimo. Desisto, resisto, insisto. Sou todos e todas. Meus erros são os erros do mundo. Meus acertos são insinuações do acaso.

Nunca estive muito certo do que sinto. Aprendi a não dissipar ou temer. Aprendi a não me prender demais. Aprendi coisas que julgo ter me tornado, mas as erro a todo instante. Sinto ciúme, sinto decepção, sinto raiva, mas me anestesio das feridas logo em seguida.  O desapego constituiu-se como minha regra.

Sinto repulsa da estupidez de sua dissimulação fracassada. Logo, compadeço e reconheço-me quando percebo não ter certo em que ponto não faria o mesmo. Em que medida, em que peso, vale a pena se agarrar aos prazeres? O gozo não se troca em papel moeda, mas tem seu preço caro.

Engulo o soluço de lágrima engasgada. Respiro fundo. Engulo fumaça. Sorrio. Só rio. Sou rio.

No curso das águas trafegando em sentidos diversos talvez nos encontremos. Não me desvencilho do rumo de minhas correntezas. Nunca fixo no mesmo ponto, a despeito de vive-lo em máxima voltagem. É que em minha alma nômade, nenhum lugar será em algum dia o meu lugar.

Diego Marcos Silva Leão


24/05/2015 – 21:45h

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Não-lugar

créditos pela imagem: Mathieu Bertrand Struck


Inesperado. Repentino.
Como todo bom romance deve ser.
Reapareceu numa linha do acaso de beijos de tempos que tinham ficado já longes
Num tempo que tinha que ser. Na melhor hora para abraços de braços, de pernas e de almas.
Fez-se paixão nova, quando as paixões já nem pareciam ter tanto sentido. Girou a vida, girou o mundo, girou o sol.
Fez-se menina de olhos estrelados e mulher com desejo feito mar em cheia.
Tornou-se lua que em suas fases e faces, por vezes toca-me com seu brilho, por vezes some no céu. Recriou-se em suas tempestades internas, a querer destruições para se transmutar em construções.
Entregou-se.
Sempre. A. Cada. Instante.
Sentiu. A língua e o tato. A pele. Os dentes.
Ressurgiu. Sem forma. Sem lógica. Sem medo. Querendo apenas ser.
Fez-se uma sorte grande em tempos em que nos cassinos da vida, os jogadores sofrem de azar.
Requereu-se em encanto, uma magia: em toques que tornam desnecessárias palavras para expressar a verdade em sua forma mais íntima.
Fez-se beijo permanente nos lábios. Risada que ecoa na memória tão doce.

Fez-se enfim grande e denso. Para além do vento e do tempo.  Num não-lugar, onde libertar-se é uma rotina que se chama amor.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

A direita ataca! E a esquerda...?

imagem: divulgação APP-Sindicato

Há uma enorme pressão sobre os governos para exercerem ajustes fiscais em cima do fundo público e da seguridade social. É a velha história que já deveríamos estar escaldados em que se procura convencer da inevitabilidade de políticas de enxugamento.

Podemos dizer assim que há um tensionamento impulsionado pelo capital financeiro para se realizarem medidas que reduzam a parcela da arrecadação que é destinada para prover direitos e outros benefícios ao povo.

O lastimável episódio ocorrido no Paraná, em que o governo tucano de Beto Richa no dia 29/04/2015 reprimiu vergonhosa e violentamente os professores que protestavam contra medidas que pretendem sugar a aposentadoria dos servidores, é mais uma faceta dessa nebulosa conjuntura pela qual passamos.

Em Brasília, folheia-se uma agenda conservadora do Congresso que mistura pautas que visam agradar de forma moralista os setores médios conservadores (como a redução da maioridade penal) com outras que atacam diretamente trabalhadores e concedem benesses aos patrões - caso da famigerada PL 4330 da terceirização. Aqui pelas bandas do Triângulo Mineiro também há proposições relativas a mudanças na aposentadoria de servidores.

Quando ocorrem as manifestações de trabalhadores do funcionalismo público contra essa situação oscilam-se duas posições:
1) Quando o governo é de direita: há no mais da vezes uma postura de desqualificação das manifestações e não raro de uso de violência física em maior ou menor grau. Rapidamente acusa-se esses governos de seu caráter "fascista". O que não é falso, a não ser pela falta de aprofundamento da análise, inclusive na utilização generalizada do conceito de "fascista" que se aplica na prática a grupos específicos. Na verdade, a grande tática desse momento da direita que está no poder (político e econômico) em diferentes níveis é o desgaste do Estado na sua dimensão provedora de direitos sociais. Exemplo disso é o papel que têm exercido os monopólios e oligopólios midiáticos ou as movimentações de setores políticos financiados pelo grande capital que concentram esforços em especial no poder legislativo (e também no judiciário).
2) Quando o governo é da centro-esquerda institucionalizante: "Isso é uma manobra da "direita"" - seria a fala mais comum. Mas se desconsidera que na maior parte das vezes, mesmo que realmente ocorra um impulsionamento de mobilização por parte da "direita realmente existente" em muitos casos a maior parte das pautas são de teor progressista (por mais direitos e para garantir os que já são legalmente adquiridos, mas não cumpridos).

Resumindo: É fato! Realmente há uma ofensiva orquestrada pela direita. Mas por outro lado, há uma timidez e receios acentuados combinados com uma falta de capacidade da esquerda em articular lutas nos âmbito da política institucional e da mobilização popular e sair do cerco que se permitiu  encerrar nesses últimos anos. As pessoas do país estão indo para a rua e no caso de professores e setores que historicamente se colocam próximos ao povo, saem em busca de melhorias nas suas condições objetivas de vida e de trabalho. A parcela da esquerda que se enclausurou no pragmatismo administrativo parece não compreender ou querer ocultar para si própria isso.

São novos tempos com novos enfrentamentos. Precisamos nos refazer com eles.

Contudo, ainda considero que a única saída para alterar essa correlação de forças seria refundar  a institucionalidade política do país. Isso só se faria com ampla participação popular e extinguindo privilégios políticos que hoje são destinados às elites e seus lacaios que tolhem a democracia. Deste modo, nada mais coerente para este momento empunharmos a bandeira de uma Reforma Política realizada através de uma Constituinte Exclusiva e Soberana.

Diego Marcos Silva Leão - Professor de História na Rede Municipal de Uberlândia, mestrando em História Social pelo PPGHI-UFU, atua na Pastoral Operária e é militante do Levante Popular da Juventude e da Consulta Popular.

sobre-palavras




Diz se das palavras muitas coisas. E chego a quase me contentar em segurança que sejam apenas o veículo com o qual escrevo este texto.
É que por vezes seria bom que tivessem uma fixidez mais sólida que a dureza estrutural que se pode seccionar a langue e parole. Pois, afinal, se fossem as palavras enrijecidas como pedra não haveria temor com qualquer corte que viesse delas.
Mas é que eu gosto... eu gosto do sangue que me extrai a palavra-navalha, que se corta e recorta e nunca sai na integralidade do meu pensamento. Porque na palavra eu sempre espero a mais pérfida traição que não é senão de mim mesmo. E nesse movimento se descortina o meu desengano, o desentorpecer com doses de realidade.
Nesse sentido, cada palavra machuca e esfacela a realidade, intervêm na ordenação que se inventa como lógica das coisas. Subverte a obviedade do que se diz natural, com ou sem a intenção de ser.
A palavra é um gemido que clama o ser para fazer-se humano. É como ambição nunca morrida por uma possível redenção para a vida com similaridade de emoção à de achar doce esquecido durante larica noturna.

Gosto da expressão palavra amiga, apesar dela me deixar entristecido. Nunca tomei um porre com uma palavra ao meu lado na mesa do bar. O máximo que fizemos juntos foi elas se confabularem em sons que mediavam o diálogo entre os que se embebedavam comigo.

Às vezes penso as palavras como se fossem um romance que se coloca ali bem distante. Pairando em mim com sua indiferença. Desenho-as e as declamo e estão no próximo instante bem fora de mim.
Todo calor que manifesta na palavra que digo num momento de prazer, jamais terá a mesma temperatura e sabor da pele. Mesmo que as palavras venham a tocar e a incendiar os desejos submergidos na mente.
Pa-la-vra (junção de sílabas, fonemas): um fragmento de fragmentos que não raro ousa tentar ser o mundo mas que nunca o será. Que nomeia o mundo. E que por vezes adjetiva-o como imundo a despeito de que para existir tenha de sugar muita coisa da beleza de mundo.
Palavra é um encanto que se joga para se cativarem paixões. A definição para paixões poderia ser: o momento quando todos os pontos lógicos da realidade parecem sumir. Contudo, as paixões são contraditórias. Pedem a todo o momento para se encarcerarem dentro de nós, mas com o tempo rebelam-se e desmantelam todas as grades que as impedem de se transbordarem em tamanho.
Palavra... soturna e às vezes gentil distorção do acontecido, do que se viveu. Esse vivido só ganha relevo para o homem ou para mulher, quando alguma coisa pode ser dita.

A neutralidade dos fatos (que são feitos existir) nada mais é que pintura descascada que tenta esconder a imanente dinamicidade da vida.

O ser humano só começa a irromper do casulo para ser libertação quando se esvai do falseamento de significados da palavra mecânica. O ato da palavra que antes era simples e até natural vai se fazendo pouco a pouco de modo a borboletear o que aparecia como a obviedade na forma de um negativo congelado do real, que agora apenas isso não pode mais ser. Pouco a pouco o ser pode dizer mais e mais que é este o seu mundo e que portanto pode mudá-lo e refazer as relações que o oprimem.


diego leão

segunda-feira, 6 de abril de 2015

questões burguesas

créditos pela imagem: Jose Maria Cuellar



você ou eu sou/somos só uma imagem
uma conveniente e fugidia ilusão festejante
atrapalhada pela chuva dos confetes de realidade
(nem toda festa é alegria)

diego leão






sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

contradições



meu desejo de não querer ter (ou ser) imagem
me conduz a ser imagem ainda mais fortemente