quinta-feira, 30 de abril de 2015

A direita ataca! E a esquerda...?

imagem: divulgação APP-Sindicato

Há uma enorme pressão sobre os governos para exercerem ajustes fiscais em cima do fundo público e da seguridade social. É a velha história que já deveríamos estar escaldados em que se procura convencer da inevitabilidade de políticas de enxugamento.

Podemos dizer assim que há um tensionamento impulsionado pelo capital financeiro para se realizarem medidas que reduzam a parcela da arrecadação que é destinada para prover direitos e outros benefícios ao povo.

O lastimável episódio ocorrido no Paraná, em que o governo tucano de Beto Richa no dia 29/04/2015 reprimiu vergonhosa e violentamente os professores que protestavam contra medidas que pretendem sugar a aposentadoria dos servidores, é mais uma faceta dessa nebulosa conjuntura pela qual passamos.

Em Brasília, folheia-se uma agenda conservadora do Congresso que mistura pautas que visam agradar de forma moralista os setores médios conservadores (como a redução da maioridade penal) com outras que atacam diretamente trabalhadores e concedem benesses aos patrões - caso da famigerada PL 4330 da terceirização. Aqui pelas bandas do Triângulo Mineiro também há proposições relativas a mudanças na aposentadoria de servidores.

Quando ocorrem as manifestações de trabalhadores do funcionalismo público contra essa situação oscilam-se duas posições:
1) Quando o governo é de direita: há no mais da vezes uma postura de desqualificação das manifestações e não raro de uso de violência física em maior ou menor grau. Rapidamente acusa-se esses governos de seu caráter "fascista". O que não é falso, a não ser pela falta de aprofundamento da análise, inclusive na utilização generalizada do conceito de "fascista" que se aplica na prática a grupos específicos. Na verdade, a grande tática desse momento da direita que está no poder (político e econômico) em diferentes níveis é o desgaste do Estado na sua dimensão provedora de direitos sociais. Exemplo disso é o papel que têm exercido os monopólios e oligopólios midiáticos ou as movimentações de setores políticos financiados pelo grande capital que concentram esforços em especial no poder legislativo (e também no judiciário).
2) Quando o governo é da centro-esquerda institucionalizante: "Isso é uma manobra da "direita"" - seria a fala mais comum. Mas se desconsidera que na maior parte das vezes, mesmo que realmente ocorra um impulsionamento de mobilização por parte da "direita realmente existente" em muitos casos a maior parte das pautas são de teor progressista (por mais direitos e para garantir os que já são legalmente adquiridos, mas não cumpridos).

Resumindo: É fato! Realmente há uma ofensiva orquestrada pela direita. Mas por outro lado, há uma timidez e receios acentuados combinados com uma falta de capacidade da esquerda em articular lutas nos âmbito da política institucional e da mobilização popular e sair do cerco que se permitiu  encerrar nesses últimos anos. As pessoas do país estão indo para a rua e no caso de professores e setores que historicamente se colocam próximos ao povo, saem em busca de melhorias nas suas condições objetivas de vida e de trabalho. A parcela da esquerda que se enclausurou no pragmatismo administrativo parece não compreender ou querer ocultar para si própria isso.

São novos tempos com novos enfrentamentos. Precisamos nos refazer com eles.

Contudo, ainda considero que a única saída para alterar essa correlação de forças seria refundar  a institucionalidade política do país. Isso só se faria com ampla participação popular e extinguindo privilégios políticos que hoje são destinados às elites e seus lacaios que tolhem a democracia. Deste modo, nada mais coerente para este momento empunharmos a bandeira de uma Reforma Política realizada através de uma Constituinte Exclusiva e Soberana.

Diego Marcos Silva Leão - Professor de História na Rede Municipal de Uberlândia, mestrando em História Social pelo PPGHI-UFU, atua na Pastoral Operária e é militante do Levante Popular da Juventude e da Consulta Popular.

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