quarta-feira, 28 de agosto de 2013

da lógica que não pode ser

da lógica que não pode ser

se eu envelopar a água
o que você me dá?
e se eu enrolar o vento
ganho quantos centímetros de alforria?

se eu aspergir soluços
presentearei tresloucados anfíbios
e se eu banquetear rumores
vou vomitar artrópodes

mas’que’cê’me’dá?
se eu for calar o frio
e sentir nos pés os calos frios
e me arrepiar em calafrios?

frígida nunca foi a frigideira
que fervilha a cabeça
e polvilha a multidão
escamoteia plutônica angústia
dos vulcões que poderiam ter sido
e se resignam subterrâneos

as lágrimas que cristalizam pétreas
são as lavas não escorridas pela terra
que alocadas nos medos das pálpebras
jaz em anseio de banhar magma em explosão

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

caixa-flores

despetalam floresceres
e ser girassol solto se tornou muito pouco
porque agora são requeridos jardins inteiros
e não cabe mais ser só um
nem ser só mais um

é estação de germinarmos em muitos
pra nos sermos e sermos o outro
e nos semearmos em trigo
nos fazermos tenro alimento
pras bocas e almas famélicas
de sentimentos do mundo

é verídico
não se permitirá protelamento
é instante oportuno e preciso
de derrubar as cercas
o que nos reprime de ser
sobreviver não é o bastante

pois se pequeninos que somos
não nos contentamos em migalhas
e queremos a vida bem grande
e deixamos em clarividência:
não nos abriremos a negociatas
nem queremos pagamentos
em boletos cheques duplicatas
só consideramos um tipo de papel valoroso:
os que se escrevem poesias

a paixão não é mais barata que cifrões
e se um abraço é mais caro que o ouro
os beijos tem mais utilidade pública que bancos

a plenitude humana não se pega em empréstimo

pois é amor o que se faz teimosia do povo
de não se deixar ir ao abate
e de persistir em esperanças
e reivindicar não apenas existência
e os sábios já declaravam
é o dinheiro o que só traz a miséria
e queremos mais sonhos nos bolsos