sábado, 6 de junho de 2015

Memórias Possíveis?

Toda memória é um troço meio machucado. Por trás de cada lembrança mesmo que acompanhada de sorrisos, acaba vindo sempre um sensação de peito se comprimindo. Ficando assim meio apertado.
 A memória que é sempre um pouco invenção faz-se tempo que já não existe mais.  Tal como se ladrasse querendo se salvaguardar pra dizer que somos alguma coisa na vida e no mundo.

Toda memória que predomina em algum lugar efetiva-se enquanto atentado às outras tantas que também querem falar.

Uma memória é o que foi, mas também é o que poderia ter sido. Quantas paixões e quantos amores se tornaram projetos falhos, mas que em algum momento foram possibilidades? Quantas ações poderiam ser apenas sequência de nossos planejamentos sonhados? Quantas vezes as utopias poderiam ter esmagado a tirania daquilo que nos impede de sermos em completude?

A memória é como uma lesma que passeia pelo presente. Insiste em não nos deixar esquecer nossos piores aspectos, nossos piores erros, nossos mais assustadores traumas. Às vezes se torna tão incômoda que o único caminho é ocultá-la. Fingirmos que esquecemos. Porém, quando a escondemos ela cresce mais e torna cada vez mais tenebroso revisita-la. Toma então para si em partes nossa mente lá onde fazemos de tudo para não sabermos como algo que também nos é.

Às vezes a memória é como um encontro. Nela nos percebemos enquanto bichos humanos. Afinal, apenas homens e mulheres são seres no tempo. Apenas nós nos identificamos no passado, requerendo-nos sermos outra coisa no futuro. Nisso a beleza, nisso a lamentação. Porque aí se desvela um castigo, mas que coloca a partir das contradições as chances de redenção.


É que a ousadia de um novo tempo necessariamente haverá de evocar alguma memória. O presente é puro e límpido, mesmo que não o aceitemos como é. Contudo, ele nunca se desvinculará totalmente do que se fez o peso e a leveza de todos os tempos vividos pela humanidade.  

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