quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

expectativa

atchim
vale lá longe
você já espirrou
o que já se quis
e estava ali tão junto
que só mais um pouco
e que lá ia
a mão apertava
e apertava também
o cardíaco bombeador
que estoirava e estourava

as batidas
explodiam
pra me espatifar
lá da minha horta
a aorta
a horta de parir os desejos
onde ficam as mudas
bem mudas
sem falatório
as mudas de querença
e de temperança
adubadas em tempero
e em esperança
ao sol germinando
do gérmen minando
as ervas danosas
daninhas
danando
comigo
com todos
com tudo

esse tudo que passa
esse tudo que voa
esse tudo que quero
esse tudo que é nada
que nunca se alcança
que ilude em sempre
deixa nas mãos
só uma marca
que logo se esquece
como um dia se fez
como se fez machucado
e fica um sempre
um ranço despedaçado
do que se quis
e jamais se será
e jamais se terá

é
em um espirro
em um só espirro

expectativa se morre

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

ruirá

                                                            Créditos pela imagem: Tanozzo

esse teto cobre céu
que pedra a lua
ruirá

por peso de lua
que estrela lamentos
ruirá

ruirá os penhores
que retêm corajosos
pra esmagar os receios
e esfumaçar extintores de medo

ruirá eu sei ruirá
as dívidas pros deuses
que pisoteiam as gentes
e envergam verdades

ruirá as paredes
dos quartos fechados
de enclausurados em si
de amores desapaixonados
em lacrimejo amarrotado
as feridas não machucadas
de cicatrizes imaginadas
de ousadias desacontecidas

ruirá eu sei ruirá
este poema
de palavras molengas
e ardor convulsionado
em explosão de lirismos
de avexo pra coração batucado
a cumprir tristes penas
por não caber por aqui
o que não caibo em mim