Em 1924, o italiano Marinetti ao misturar noções de juventude, cientificismo e tecnicismo, expunha as afinidades entre fascismo e futurismo. Ao ser ver era preciso eliminar os intelectuais que seriam empecilho para o desenvolvimento da Itália - o que chamava de "fétida gangrena de professores".
O contrário disso seria exaltar o futuro, o homem-máquina, o automóvel e a guerra não seria horror, mas poesia. A Primeira Guerra não seria então horror, mas o mais belo poema futurista!
Quando emerge o fascismo na Itália seria então uma oportunidade para tal. Glorificaria-se o homem-máquina, o homem-guerra, o homem másculo e resultado da evolução que sempre caminha sentido o progresso. Mesclaria-se aí a vocação nacional impedida pelos professores, esses intelectuais pessimistas que falam do passado, que falam de questão não da máquina, mas do humano.
---
O horror de um governo golpista, de reitorias que emergem vitoriosas com pseudo-noções de cientificismo, de tentativas de eliminação de disciplinas fundamentais para formação de um ser humano autônomo e liberto se confundem em meio aos aspectos que reavivam noções próximas desse "futurismo" no nosso tempo. Uma ode ao tempo presente e futuro, que tentam desvincular o passado como aspecto do que nos faz humanos.
Porém, não existe ser humano, sem história, sem memória, sem criatividade, sem humanidade.
O progresso nada mais que uma canção criada no seio do capitalismo, mas que deve ser negada porque se projeta na prática não como "bem comum", mas um rito contínuo de destruições. Torna-se um monumento daqueles que detêm o poder na sociedade injusta e desigual que vivemos, como forma de assegurar a legitimidade de sua dominação: "Aqui estão os nossos feitos para o sucesso do mundo!". Porém, na contraface desse monumento (remetendo-nos de certo modo a Walter Benjamin) vislumbra-se a barbárie, a miséria, a desigualdade, a injustiça, e o grito que se tenta calar daqueles e daquelas que não querem ser máquinas. Daqueles e daquelas que não aceitam ser robóticos depositários do fascismo em que sua tarefa é construir esse futuro maquinalmente desumano.
---
Na tentativa de impor um currículo para o ensino médio no Brasil em que se coloca como menor em vários sentidos o que é humano essa noção maquinal se faz presente. Pois nesse racionalismo técnico para quem privilegiar disciplinas de Humanidades, se não servem ao que afirmam ser progresso? Para que pensar em estudantes em sua dimensão humana - que às vezes trabalham o dia todo pelas mesmas injustiças promovidas pelo progresso? Para que pensar em professores em sua dimensão humana? Para que pensar a construção de autonomia do ser humano crítico e pensante - sujeito de sua própria história? Para que artes, filosofia, educação física, sociologia? Tudo são dados, são números, são tecnicismos, são coisas, não gentes. Aumentem-se as horas então, se não números! - essa é a lógica do governo golpista, de Aécio e Anastasia e das orientações neoliberais - que a esquerda por muitas vezes se omite a enfrentar de fato. Números! Não gente!
---
A palavra de ordem deve ser resistir! Não apenas ao governo golpista! Mas resistir pela dignidade e em nome de um projeto para educação brasileira que seja verdadeiramente humano e não cibernético, mecânico ou maquinal...
sexta-feira, 23 de setembro de 2016
domingo, 22 de maio de 2016
Batalha de MCs no centro de Uberlândia: é o povo que chegou para ficar
Bonés de aba reta, cabelos black, alargadores nas orelhas e outros
tantos adereços que compõem estilos em que se veste a juventude do povo
brasileiro ocuparam a cena durante a Batalha de MCs e Arena Break que ocorreu
no centro de Uberlândia neste sábado dia 21 de maio.
Os jovens implodiam assim a estética impositiva provinda de
muitos que moram nas proximidades daquela região da cidade, que por um certo
elitismo ainda vigorante, não costuma acolher tão bem assim a diversidade.
Aquela região próxima
ao núcleo fundador da cidade, onde moravam/moram os coronéis locais poderíamos
fazer alusão a algo que seria como uma “cidade velha”. Contudo que se transmuta
pela presença daqueles jovens com seus versos e beats, em uma cidade que
reivindica ser nova, uma novidade. Uma novidade feita pelo que emerge enquanto
resistência ao que é dominante. Querem que a cidade tenha rap e, não querem ter
apenas voz (pois já tem e mandam incrivelmente bem nisso), querem que estejam
com os seus, para que possam se ouvir e falar (Juntos).
Construir suas formas próprias de viver e fazer a paisagem
da cidade.
O local escolhido pelos organizadores, inicialmente seria a
chamada Praça Bicota, que recebeu esse nome devido a uma sorveteria que ali
fica situada. Mas, por ser um local pequeno e que não comportaria todas as
pessoas a atividade foi deslocada para outra praça ali próxima: a praça da Igreja do Rosário.
A igreja em que frequentavam as negras e negros que se
libertaram da escravidão agora em seu entorno é tomada pela juventude dos
bairros populares e da periferia de Uberlândia. O local de sociabilidade e de
relações sociais do povo negro de ontem, em que exprimiam dentro de pressões
sua cultura, seu modo de viver, hoje se fez o lugar em que os jovens da cidade
da classe trabalhadora, em grande parte também negros, manifestem suas artes,
suas rimas e seu jeito de ser.
Jovens que ocupam a cidade com alegria, dizendo que querem
fazer acontecer. Com o mesmo ímpeto e vontade de quem não abaixa a cabeça, de
quem rompeu as correntes para livre poder ser. Mostram assim que a juventude
quer viver, quer ter lazer, cultura, educação e artes. Quer uma cidade que
acolha as diferenças, que seja acessível a todos e todas, sem que se feche em
muros, ou que segregue quem não concorde com a normas instituídas.
ESSA JUVENTUDE DO BRASIL! É FOGO NO PAVIL!
Fotos: Cleber Couto
terça-feira, 5 de abril de 2016
domingo, 27 de março de 2016
ment(e)ira
meu medo é insegurança de mim
forjo desconfianças em outrem
por não saber me acreditar
êta vida leva
e só leva
leva esses lampejos dissabores
que nem fazem razão de pensar
da sabedoria que fortalece o engano
vem o pensamento sem mundo
que se revela tão absoluto insano
e se descola do real de ser
forjo desconfianças em outrem
por não saber me acreditar
êta vida leva
e só leva
leva esses lampejos dissabores
que nem fazem razão de pensar
da sabedoria que fortalece o engano
vem o pensamento sem mundo
que se revela tão absoluto insano
e se descola do real de ser
sábado, 26 de março de 2016
Perdões a quem não quero perdoar
Desculpas sinceras peço se não sou de meio termos. Se não consigo disfarçar sentimento, se não finjo ser quem não sou para quem não quero por perto.
Desculpe, e digo sem "moralismos", que é isso que se pode esperar numa ética de quem não aceita as coisas como são.
Peço meus singelos perdões a quem me sacaneia e vem me pedir ajuda com cara blasé por não despistar a má vontade. E também ao fato de não admitir amizade com gente que tem posição de mundo de achar que é bonito as coisas serem como são, de que não há exploração e opressão no mundo.
Desculpas peço. Não que lhes odeie a todos. Mas é que nesse mundo não dá para não ter lado, e a necessidade de ter lado vai se revelando nas sutilezas.
Não posso andar ao mesmo lado de gente que prolifera ódio, que acha que miséria é invenção, que coloca lenha na fogueira dos poderosos, que fica a colocar mais suporte para o status quo.
Perdão aos que permito andar a meu lado, mesmo sem em presença querê-los. Mas se lhes respeito por considerar que em muito estamos juntos a caminharmos pelas contingências que se apresentam, não posso simplesmente ser cristão a ponto de dissolver as mágoas. Não sou imune às feridas da vida, e as cicatrizes que as cobrem, se curam, também deixam marcas de lembrança.
Não consigo admitir hipocrisia e nem creio que relações se fazem por conveniência.
Olhando agora as fotos vejo no que me tornei e não sinto vergonha.
Em tempos em que se exige um posicionamento e uma postura na vida, não dá para ser meio termos. Não dá para viver em afagos, apertos de mãos ou amenidades com quem está do lado daqueles que proliferam as violências, mesmo estando em condições de terem plena consciência de suas possíveis implicações.
Desculpe, e digo sem "moralismos", que é isso que se pode esperar numa ética de quem não aceita as coisas como são.
Peço meus singelos perdões a quem me sacaneia e vem me pedir ajuda com cara blasé por não despistar a má vontade. E também ao fato de não admitir amizade com gente que tem posição de mundo de achar que é bonito as coisas serem como são, de que não há exploração e opressão no mundo.
Desculpas peço. Não que lhes odeie a todos. Mas é que nesse mundo não dá para não ter lado, e a necessidade de ter lado vai se revelando nas sutilezas.
Não posso andar ao mesmo lado de gente que prolifera ódio, que acha que miséria é invenção, que coloca lenha na fogueira dos poderosos, que fica a colocar mais suporte para o status quo.
Perdão aos que permito andar a meu lado, mesmo sem em presença querê-los. Mas se lhes respeito por considerar que em muito estamos juntos a caminharmos pelas contingências que se apresentam, não posso simplesmente ser cristão a ponto de dissolver as mágoas. Não sou imune às feridas da vida, e as cicatrizes que as cobrem, se curam, também deixam marcas de lembrança.
Não consigo admitir hipocrisia e nem creio que relações se fazem por conveniência.
Olhando agora as fotos vejo no que me tornei e não sinto vergonha.
Em tempos em que se exige um posicionamento e uma postura na vida, não dá para ser meio termos. Não dá para viver em afagos, apertos de mãos ou amenidades com quem está do lado daqueles que proliferam as violências, mesmo estando em condições de terem plena consciência de suas possíveis implicações.
terça-feira, 22 de março de 2016
sexta-feira, 18 de março de 2016
con-formar
um brinde à vida
mesmo sofrida
e aos abalos sísmicos
que fazem aqui dentro
um brinde à vida
às denúncias feitas por mim
gritando a mim mesmo
por justiças às vítimas que me faço ser
um brinde à vida
com seus terrores e desvarios
porque é a companhia que tenho
e porque com a morte não bebo
um brinde à vida
porque luto por ela
porque luto através dela
porque a luta é ela
mesmo sofrida
e aos abalos sísmicos
que fazem aqui dentro
um brinde à vida
às denúncias feitas por mim
gritando a mim mesmo
por justiças às vítimas que me faço ser
um brinde à vida
com seus terrores e desvarios
porque é a companhia que tenho
e porque com a morte não bebo
um brinde à vida
porque luto por ela
porque luto através dela
porque a luta é ela
segunda-feira, 14 de março de 2016
de(mente) em tempo
às vezes um algo me
come
sentimento que
botaram nome
que responde por
solidão
e que provoca
memórias
e os machucados de
tempo
meu semblante
interno
com calos de
espinhos
ninguém se demora
ao ver interstícios
vazios
e o vão que apavora
a saída da angústia
não tem uma porta
tampouco uma rota
pra algo que importa
pra se impor novas
cores
a palavra tem seu
tempo
diferente das coisas
que tem própria
história
porém uma corrói a
minuto
e outra esmaga a
gente
Uberlândia
– 14/03/2016 – 22:59h
Assinar:
Postagens (Atom)