quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Conto do Louco sem nome - Parte 3


Imagem: devilpato1



Numa dessas noites, Carlos lhe contara também de uma tal Judite, nobre prostituta da zona leste da cidade de sonhos. Seria uma mulher muito procurada pelos homens, pois, se soubesse escrever e desenhar certamente seria capaz de dar segmento ao Kamasutra como se ele fosse uma seqüência de dez volumes. Não disse antes, mas é conveniente revelar a vocês que muitos dos homens da cidade não tinham cor.

Não eram brancos, negros, amarelos ou de cores intermediárias. Eram transparentes!

Não em tudo, os órgãos internos eram bem visíveis à distância. Se eram transparente, eram transparentes de pele. Homens assim eram muito procurados, pois as mulheres os tinham como belos. Acreditavam que eram uma espécie de metáfora, além das palavras ocas, daquela coisa de “enxergar o coração de alguém”.

Ademais, fascinava o fato que só havia homens transparentes. As mulheres assim nunca eram. Alguns chegavam a dizer que o motivo disso se devia ao fato de que as mulheres são arcabouços de mistérios e que ninguém jamais veria que tipo de coisa qualquer uma delas realmente guarda. Talvez até tenha certa lógica, pois as mulheres são mesmo muito mais complexas em atos, pensamentos e ações do que os machos ávidos por praticidade. Mas voltemos à história...

Dia desses, um dos tais homens sem cor consegue noivar com Judite. Ela se apaixonara pela graciosidade das veias daquele rapaz, se é que se pode chamar de rapaz um homem com mais de cinqüenta, mas como sua pele era transparente também não se viam suas rugas.

Quando soube disso o jovem Carlos, que vagava pelas zonas cantando o amor – que em verdade nunca conheceu além do que falava ele próprio e do que diziam os poetas e compositores musicais - se pôs a chorar , e de tal forma que seu pai dizia que ele mais parecia uma bica igual a que tinha em seu sítio e que vertia muita água.

O desespero se devia ao fato de que o jovem tinha Judite como mulher ideal, já que era uma grande puta e no país de onde veio elas eram muito admiradas e respeitadas.

Todo mundo queria casar com uma puta! Lá era assim! Pois era garantia de dinheiro, bom sexo e de nunca ser corno! Pois se faziam sexo com outros era por ser essa a essência de um fazer com qual conquistavam o direito de comer o pão.

E traição isso nunca poderia ser... Afinal só é traído quem não sabe o que acontece.

Carlos então passou a elaborar uma forma para que Judite começasse a odiar o rapaz transparente. Sabia que ela odiava o roxo.

Sim! Odiava essa cor, pois quando era criança se lembrava dos olhos de sua mãe, que costumava dizer que estavam maquiados. Mas sabia muito bem que os punhos do pai nunca poderiam ser tidos como artefatos para embelezamento...

O malvado - pelo menos é assim que quero transparecer que seja em minha versão da história - decidiu que transformaria o homem transparente em roxo. Teria lido em alguma ocasião que eles eram muito sensíveis à tinta guache, ao contrário das outras pessoas em que ela saía facilmente com água.

Foi à papelaria, comprou muita tinta. E, como morava num sobrado, onde o Tansparente passava todos os dias, ficou aguardando a sua passagem na hora que era habitual.

Enquanto a tinta tocava a pele transparente, o homem se mordia de dor. Se contorcia e as pessoas na rua tentavam socorrê-lo. Já viu um sapo se derretendo pelo sal? A situação era bem essa....

Foi levado ao médico, mas não houve solução...

Estava fadado a ser roxo pelo resto da vida, além de sofrer com uma série de complicações que, a partir daí, lhe seriam cotidianas. O pior, Judite nem quis vê-lo. Tinha trauma da cor. Jamais poderia suportar aquilo...

Assim, rejeitado e roxo, o homem transparente não suportou seu fardo e se suicidou, dois meses depois, em profunda depressão...

Só que Judite, apesar da proteção que a polícia local dava a Carlos, sabia muito bem o culpado de tamanha atrocidade. Não poderia deixar isso impune. Ainda mais quando o ridículo continuava a atormentá-la, implorando para que ficassem juntos.

Disse que ia se vingar... E se vingou.



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[Continua...]



16 comentários:

  1. Muito interessante sua escrita, gostei realmente do texto. É certo que voltarei por aqui.
    Abraço.

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  2. tu te superou hein?

    quanta imaginação e quanta fluência textual, as ideias surgem como numa torrente mental... não digo soluço mental, pois isto soaria como se o texto oscilasse, mas tal não ocorre, ele apenas flue...

    vlw, guri

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  3. Que isso, surreal e fantastico,ficou dificil de imaginar tantas cenas novas, interessantissimo...
    Huum, esse tom de suspense no final...
    Espero a 4° parte.

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  4. Grande Diego!
    Minha ausência no teu blog, foi involuntária. Andei fora do ar por um tempo, e mesmo os meus "preferidos" não consegui visitar.
    Vou ler a Parte I e II, para fazer um comentário à altura do teu talento.
    Um abração!

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  5. Só pessoas com inteligencia e sensibilidade conseguem chegar a tanto.
    Aguardo ansiosa ...
    carinho

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  6. Poh cara muitos bacana essas historias
    abrç
    www.celebritypoke.blogspot.com

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  7. Poxa mto bom a história!
    certamete eu venho aki novamente p/ ver outras dessas!
    =D

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  8. Gostei da atmosfera, as putas e sua noção de homem-transparente, além do que vc escreve de uma maneira que até parece fácil. Já estou acompanhando seu conto desde a 1ªparte e estou ansioso pela continuação.

    Abraços!

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  9. Generic Viagra
    I like so much this part or article... thanks for wrote.. have a nice day!

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  10. E a continuação???? Quando voltas a postar?
    Aquele abraço!

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  11. Oi Diego quanto tempo véio XD

    só queria passar pra avisá-lo que o indiquei a um selo, não sei se vc participa dessas "brincadeiras" mas é legal pros blogueiros se socializarem XD

    http://infoerock.blogspot.com/2009/09/selos-e-mais-selos.html

    Abração!

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  12. Oi Diego!

    Bem, estou passando aqui só para avisá-lo mesmo que o indiquei a um selo: http://infoerock.blogspot.com/2009/09/selos-e-mais-selos.html não sei se vc gosta dessas "brincadeiras" mas é legal pros blogueiros se socializarem rsrs

    Abração

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  13. ah sim, mulheres são arcabouços de mistérios...
    e sabemos q é isso que os facina.

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  14. Cara, hoje que eu vi teu comentario acredita?haha; obrigada pela gentileza de ir lá e ler as babaquices de uma pseudo-escritora :D
    As vezes ter um amor pra amar nem seja tão bom quanto lemos não é mesmo? você escreve muitiiiiissimo bem, continue!


    ps: Interesses
    História. Literatura. Artes plásticas. Música. Ciências Sociais. Cinema. Poesia.

    faço ciencias sociais :D

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  15. Muito bem Diego !!!!!!!!!!!!
    Estamos aguardando a continuação...
    Espero que esteja tudo bem contigo.
    Beijo e bom final de semana :o)

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