quarta-feira, 3 de agosto de 2011

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Sinto tanta coisa. Como se tudo estivesse muito amarrado. Como se houvesse uma grande conspiração de todos contra mim. Que as pessoas estão mancomunadas e sabem tudo que se passa em minha vida.
Um verdadeiro Big Brother orwelliano: 1984 não está muito distante do que penso, talvez o número seja simbólico. Não revelarei o porquê, faz parte de meus mistérios.
Esse meu sentimento faz com que minha cabeça não funcione, pelo menos como a mim me transparecem funcionar as demais. Sempre penso que tudo tem uma ligação, que gera outras coisas. Mas não como simples consequências, ações e reações.
Tudo que intervenho se revela com algum sentido nem sempre muito translúcido em futuro próximo, mas já no presente se apresenta como um sem número de inter-relações inexplicáveis. De que o imediato é uma superfície cheia de indícios, mas que nos quais são cuidosamente inseridos álibis para que ninguém os perceba. Como querem me causar dor, não há motivo para que ela se desvele no agora. Afinal, ela pode ser perpetuada por toda minha vida. Através de minhas frustrações e inseguranças.
Sinto-me engolido, fragilizado, esgotado, deflorado, estuprado e torturado pelo mundo. Tudo é violento, não só no sentido físico. O universo é um grande peso sobre mim. Na minha sincera, mas por vezes megalomaníaca, sensação de que sou um agente que tem grande peso para transformação do mundo, acabo me vendo não raramente como um ser só, deslocado e impotente. Escrevi certa vez algo que jamais parou de latejar na minha cabeça: "nenhum lugar é meu lugar". Parece ser coisa de egoísmo, individualismo tolo, mas sinceramente não é. Pois contraditoriamente, o que mais desejo é um encontro. Que as coisas se convirjam, se tornem claras. Que nos outros me encontre. E há um grande esforço de minha parte para isso.
A esperança é o que me move. Pena ela ser tão decepcionante no mais das vezes. Tive uns cem trilhões de sonhos até aqui. Acredito que bem pouco deles algum dia foi real. Desses poucos nenhum deles se concretizou sem ocorrer muita luta e sofrimento. Nada foi fácil até aqui. O que me faz sentir ainda mais pressionado: vale a pena tudo isso? Deveria entregar os pontos? Ou me engajar mais e mais na busca de nem sei o quê?
Parece ser tudo tão frágil. Tão suscetível a perdas. Nada transmite segurança. Pouca gente está disposta a estar a seu lado. Na primeira falha ou sensação de incômodo mandarão você embora. Se resguardarão, pois descartar os outros é solução menos dolorosa do que a doação de si. O individualismo é latente mesmo nos que mais pregam a coletividade. O amor nunca há de ser um encanto eterno com fulguras permanentes de paixão. Mais do que isso é um entendimento constante de que o outro não é perfeito, que nem sempre vai corresponder as nossas expectativas e que se baseia num desejo mútuo de transformação de ambas as partes. Assim, ambos se transformam e deixam a condição de seres individuados.
Pode ser muito ideal tudo isso. Mas em parte reside um tanto da angústia. Outra vez não só pelo agora, mas pelo se viu até aqui...

(...)
Daí tudo retorna ou não se parece ser possível fugir. A sensação da conspiração do universo grita outra vez. Queria me desacorrentar.

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